Brasil: para além da crise (Tânia Bacelar)
9 de maio de 2009 at 15:24 Sofia Dowbor 2 comentários
Por Tânia Bacelar
Estamos vivendo um momento importante da história dos povos nesse final de 2008. A nova crise que abala o capitalismo, em estágio avançado de globalização e submetido à voracidade ( e porque não dizer à ousada leviandade) da acumulação financeira, sinaliza uma dessas situações de transição profunda.
Há tempo que a crise era prevista, mas sua intensidade e duração ainda estão indefinidas. Sabe-se, no entanto, que os impactos mais pesados atingirão os países mais ricos, em especial os Estados Unidos.
Embora o curto prazo tome a cena e ocupe corações e mentes, vale tentar olhar mais longe: para além da crise…
Vários estudos realizados bem antes do desastre de Wall Street vinham analisando tendências de médio e longo prazos e anunciando alterações significativas no cenário mundial ainda nas primeiras décadas do século XXI. O mais recente numero do Monde Diplomatique Brasil anuncia o “inevitável mundo novo” que sucederá a crise.
Em 2006, a revista The Economist publicou uma reportagem especial sobre as mudanças no ambiente econômico mundial na qual falava do que chamou “novos titans”. A conhecida publicação constatava que o trem do dinamismo econômico não era mais puxado pela locomotiva chamada países ricos. Os novos carros-chefe da economia global seriam os BRIC’s – nome que vem sendo cada vez mais usado para se referir ao Brasil, Rússia, Índia e China em análises sobre a trajetória de longo prazo do desenvolvimento mundial.
Com base em projeções demográficas e econômicas, vários estudos vinham anunciando que já nas próximas décadas as economias da China, Índia, Brasil e Rússia seriam maiores do que as dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Destes, apenas os Estados Unidos e o Japão estariam entre as seis maiores economias do mundo em 2050, profetizavam as projeções. Segundo o FMI, a China já passou a Alemanha.
Para os brasileiros, mal saídos de uma longa fase de baixo crescimento, hiperinflação, crise fiscal aguda e desequilíbrio externo, mal dá para crer na inclusão do Brasil nesta seleta lista. Mas a verdade é que não escapa aos analistas externos o enorme potencial deste país.
Com uma invejável dotação de recursos naturais (água, minérios, terra boa…), capacidade empreendedora e tecnológica (a EMBRAPA é referência internacional), o país tem tudo para se colocar entre as potências ambientais e agroindustriais mais importantes do século XXI. Num mundo com problemas na sua matriz energética, o Brasil surge como um dos maiores produtores de petróleo, com a descoberta deste produto na camada do pré-sal e com invejável potencial para gerar energia com base na biomassa.
A base industrial e de serviços modernos construída no século XX pode ser fortalecida, várias empresas nacionais se encontram em processo de globalização e a base de C&T do país vem sendo ampliada, ao mesmo tempo em que a inovação é crescentemente valorizada.
O país vem adquirindo respeito crescente nos fóruns internacionais (G20, por exemplo).
Nos anos recentes, o Brasil parece ter redescoberto o grande potencial que representa seu amplo mercado interno, e a novidade: descobre o poder impulsionador que sua base produtora pode receber do consumo insatisfeito da base de sua pirâmide social. Bastou uma modesta redução da concentração da renda nacional e esse potencial emergiu com força. Esse rumo é bom.
Se lá fora nos vêem assim, cabe-nos refletir sobre nossos problemas, desafios – o da educação, por exemplo – e nossas potencialidades. Levar o barco com cuidado em meio às turbulências atuais, mas não perder de vista o médio e longo prazo, que nos pode ser promissor. Decidir o hoje com os olhos no amanhã.
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1.
RAQUEL CORREA | 26 de agosto de 2009 às 23:13
QUERO DEIXAR AQUI, MEUS PARABÉNS, PELA PALESTRA QUE TIVE A GRANDE OPORTUNIDADE DE PARTICIPAR…
SOU ALUNA DA FAFICA CARUARU E ATRAVES DE SUA PALESTRA ESTOU DESENVOLVENDO UM TRABALHO CIENTIFICO.
RAQUEL CORREA.
2.
André dos Reis Adão | 6 de maio de 2011 às 21:52
Acredito no potencial do Brasil ,começamos a entender a importancia da melhor distribuição de renda, a sua influência direta na sustentabilidade econômica do país,estamos caminhando.
Advogado ,pós graduado em Gestão Ambiental pelo CEFET e graduando pela UFU em Gestão Pública