Posts tagged ‘desenvolvimento’

Crescimento econômico e desigualdade – as novidades pós Consenso de Washington (Carlos Lopes) 

O estudo de Carlos Lopes apresenta uma rápida visão de conjunto das mudanças em curso, e dos desafios, com particular ênfase na realidade africana, mas também nas mudanças nos conceitos econômicos que o aprofundamento da crise exige. Um bom complemento ao Crise e Oportunidade em Tempos de Mudança apresentado em 2010.
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Carlos Lopes*, julho de 2011

A palavra “pós” tornou-se num lugar-comum, sendo usada nas várias vertentes dos cenários da globalização, assinalando a ruína de conceitos ocidentais usados durante muito tempo para explicar e governar o mundo. Com a crise avassaladora que atingiu os países ricos(2) e o falhanço dos sistemas financeiros que regem a economia global, entramos numa nova era. Ela é caracterizada por mudanças não só conjunturais, mas também estruturais. È uma profunda transformação que afecta percepções e distribuição de poder. Será esta transformação o fim do chamado Consenso de Washington?
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O que significa o Consenso de Washington?

O termo Consenso de Washington tem origem num conjunto de regras básicas, identificadas pelo economista John Williamson em 1990, baseadas no pensamento político e opiniões que ele acreditava reunirem consenso amplo naquela época. O conjunto de medidas incluía: 1) disciplina fiscal; 2) redução dos gastos públicos; 3) reforma tributária; 4) determinação de juros pelo mercado; 5) câmbio dependente igualmente do mercado; 6) liberalização do comercio; 7) eliminação de restrições para o investimento estrangeiro direto 8) privatização das empresas estatais; 9) desregulamentação (afrouxamento das leis económicas e do trabalho); 10) respeito e acesso regulamentado à propriedade intelectual. A referência a “consenso” significou que esta lista foi baseada num conjunto de ideias partilhadas, na época, pelos círculos de poder de Washington, incluindo o Congresso e a Administração dos Estados Unidos da América (Tesouro e Federal Reserve Bank), por um lado, e instituições internacionais com sede em Washington, tais como o FMI e o Banco Mundial, por outro, apoiados por uma série de grupos de reflexão e economistas influentes. (mais…)

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25 de setembro de 2011 at 21:28 Deixe um comentário

Remédio em excesso mata (Amir Khair) 

Por Amir Khair, fevereiro de 2011

Os remédios têm em suas bulas a posologia, ou seja, as dosagens que podem ser tomadas para produzir o melhor efeito no combate ao problema de saúde. O médico, após o diagnóstico, tem que decidir qual o remédio ministrar e a posologia adequada ao tratamento.

O mesmo ocorre para a economia. Uma das doenças a ser tratada é a inflação e o remédio mais usado tem sido uma alta taxa básica de juros, a Selic. A partir do dia 06/dez um novo remédio foi usado pelo Banco Central (BC) visando conter “certos excessos do mercado de crédito”. Ele impôs uma reserva maior de dinheiro pelos bancos quando concederem empréstimos para consumidores com prazo acima de dois anos. No caso de automóveis, essa reserva varia conforme a entrada que o comprador do veículo der. Além disso, o BC elevou o recolhimento compulsório dos bancos, tirando da economia cerca de R$ 65 bilhões.

Os efeitos deste remédio foram eficazes e imediatos, pois de acordo com o BC, até o final de janeiro, a taxa do crédito pessoal subiu de 40,3% para 49,4% ao ano, o prazo médio reduziu de cinco para quase três anos e a média diária das concessões de crédito pessoal caiu 19%! No caso dos veículos, a taxa do financiamento subiu cinco pontos nos bancos convencionais e quatro nos bancos de montadoras, o prazo médio recuou de três anos e meio para menos de três e a concessão de crédito caiu 45% nos bancos convencionais e 35% nos bancos das montadoras. (mais…)

28 de fevereiro de 2011 at 15:09 Deixe um comentário

Gastos com a política social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda (IPEA, Comunicado Nº 75) 

Crises e Oportunidades, fevereiro de 2011

O comunicado Nº75 do IPEA traz um excelente estudo sobre o impacto dos gastos com a política social no Brasil, vistos na perspectiva de dinamização do crescimento com distribuição de renda. O estudo tem tudo a ver com a nossa plataforma de discussão sobre a crise, ao estudar os efeitos multiplicadores (ou não) de diversos tipos de gastos públicos. Os dados comprovam a necessidade de se articular políticas sociais e econômicas, na linha por exemplo de A Hora da Igualdadade , da Cepal.

Organizado por Jorge Abrahão, Joana Mostafa e Pedro Herculano, este texto mostra os impactos diferenciados em diversos setores de cada aumento de 1% de gastos públicos. A educação é a que apresenta maior efeito multiplicador. Estamos assim evoluindo do conceito de “gasto social” para “investimento social”.

“O gasto do governo com o pagamento de benefícios e prestação de bens e serviços se converteu velozmente em consumo de alimentos, serviços e produtos industriais básicos que dinamizaram a produção, estimularam o emprego, multiplicaram a renda e reduziram a pobreza e a miséria extrema. Os benefícios sociais do sistema tiveram um papel estratégico como alavancadores da economia nacional, particularmente no momento da crise financeira internacional de 2008, quando o valor e o número de benefícios cresceram.”

Trata-se de um texto curto (16 páginas) que mostra em particular que investir no “andar de baixo” da economia tira o país da crise e melhora a qualidade de vida, além de permitir repor os gastos públicos pelo efeito multiplicador sobre os impostos. Já repassar dinheiro para banqueiros…

» Clique aqui para acessar o documento (arquivo em formato .pdf, fev. de 2011, 16 páginas)

21 de fevereiro de 2011 at 19:13 Deixe um comentário

Câmbio e inflação (Amir Khair) 

O texto de Amir Khair define claramente as opções para a política macroeconômica para os próximos anos. Curto e claro como são os seus textos, ajuda muito a entender a relação entre juros, dívida, inflação e câmbio. Lembremos que foi recentemente inserido neste blog o excelente texto de Nelson Barbosa e José António Pereira (A Inflexão do Governo Lula) com uma análise em profundidade da evolução dos últimos anos. O tema é vital: a crise financeira internacional foi inicialmente sanada, nos países desenvolvidos que a geraram, pela transformação de rombos privados em défict público. Agora, buscam transferir o ônus público para a população, e frente ao custo político deste tipo de operação (curiosamente qualificada de “austeridade responsável”), fragiliza-se a colaboração internacional anti-crise da fase inicial. Em outros termos, instabilidade no horizonte, o que torna medidas de precaução no Brasil particularmente importantes. Lembremos mais uma vez que o presente blog é uma plataforma de discussão que está servindo de apoio científico e de informação a numerosos atores, e que contribuições são bem-vindas.
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Amir Khair, 14 de novembro de 2010
Publicado no jornal O Estado de São Paulo

O que controla a inflação? Segundo o mercado financeiro e o Banco Central (BC) é a Selic que serve para regular a demanda. Será que cumpre essa função? Não creio.

Descolamento. Além da massa salarial, o que influencia a demanda são os juros ao consumidor e este se descolou da Selic faz tempo. É bom recordar. Ao final de 2008 foi demitido o presidente do Banco do Brasil (BB), que discordou da orientação do governo para reduzir as taxas de juros. O mercado reagiu fazendo em dois dias despencar o preço das ações do BB, pois baixar juros iria prejudicar seus lucros. Na prática o BB se expandiu, os lucros cresceram e o preço das ações após oito meses tinham dobrado e agora já triplicaram.

Com a redução das taxas de juros e a expansão do BB e Caixa Econômica Federal (CEF) para ajudar no combate à crise financeira, ocorreu o descolamento dos juros ao consumidor em relação à Selic. Desde dezembro de 2008 até abril deste ano a Selic passou de 13,75% para 8,75% com queda de 5,0 pontos percentuais (pp). Nesse período a redução dos juros para as empresas foi de 4,4 pp e para os consumidores 16,8 pp. A partir de maio o BC elevou a Selic até 10,75% subindo 2,0 pp e os juros para as empresas subiram 2,7 pp e para os consumidores caíram (!) 1,7 pp. (mais…)

18 de novembro de 2010 at 15:27 1 comentário

A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda (Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza) 

Crises e Oportunidades, outubro de 2010

Os autores produziram um descrição excepcional, em termos de qualidade e clareza, de como o Brasil “navegou” na crise financeira mundial de 2008, o que em si constitui excelente leitura, mas sobretudo explicitam os meacanismos que articulam as macrovariáveis da economia, não através de teoria geral, mas mostrando as medidas adotadas e os seus impactos. Uma rara ocasião para entender como funciona o “miolo” da economia, e as razões do sucesso.

Segundo os próprios autores, “durante o governo Lula, o Brasil iniciou uma nova fase de desenvolvimento econômico e social, em que se combinam crescimento econômico com redução nas desigualdades sociais. Sua característica principal é a retomada do papel do Estado no estímulo ao desenvolvimento e no planejamento de longo prazo. Nos últimos anos, o crescimento do produto interno bruto acelerou, o número de famílias abaixo da linha de pobreza descresceu, e milhões de pessoas ingressaram na classe média, isto é, na economia formal e no mercado de consumo de massa. A aceleração do desenvolvimento econômico e social foi alcançada com manutenção da estabilidade macroeconômica, isto é, com controle da inflação, redução do endividamento do setor público e diminuição da vulnerabilidade das contas externas do país diante de choques internacionais. O objetivo deste texto é apresentar um resumo da política econômica que possibilitou tal desempenho.”

» Clique aqui para acessar o documento (arquivo em formato .pdf, out. de 2010, 42 páginas)

6 de outubro de 2010 at 16:45 Deixe um comentário

Livro Riscos e Oportunidades

Crises e Oportunidades, setembro de 2010

Abaixo disponibilizamos o link de acesso para o livro Riscos e Oportunidades onde estão reunidos os principais artigos da iniciativa Crises e Oportunidades.
Embora também possam ser acessados individualmente, os artigos aparecem aqui reunidos em um único arquivo para facilidade de consulta e citação.

» Livro Riscos e Oportunidades (arquivo em formato .pdf, 272 páginas, 2010)

30 de setembro de 2010 at 10:09 Deixe um comentário

Brasil: um outro patamar – propostas de estratégias (Ladislau Dowbor) 

Crises e Oportunidades, agosto de 2010

Abaixo disponibilizamos a sistematização realizada por Ladislau Dowbor acerca das visões sobre uma Agenda para o Brasil para a próxima década. Partindo de um conjunto de discussões do quadro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), e de eventos anteriores sobre o Brasil pós-crise, o trabalho reúne os principais pontos que caracterizam o novo contexto que o Brasil vive, e identifica os principais desafios e eixos de mudança para os próximos anos.Trata-se de uma importante contribuição para o nosso debate.

» Clique aqui para acessar o documento (arquivo em formato .doc, agosto de 2010, 32 páginas)

10 de agosto de 2010 at 15:04 Deixe um comentário

Olhando o futuro (Amir Khair) 

Por Amir Khair, 11 de abril de 2010
Publicado no jornal O Estado de São Paulo

Em artigo de 28 de fevereiro indagava se não estaria em marcha um novo paradigma para o desenvolvimento do sistema capitalista. Volto hoje ao tema procurando desenvolvê-lo um pouco mais. Em síntese o artigo se baseou no fato de haver um descolamento crescente entre o desenvolvimento dos países emergentes e dos desenvolvidos. De fato, segundo dados do Fundo Monetário Internacional na média anual dos últimos dez anos, entre 2000 e 2009, os países desenvolvidos cresceram 1,6% e os emergentes 5,8%, ou seja, quatro vezes mais. Os destaques foram para China e Índia com crescimentos de 9,9% e 7,1% respectivamente. Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos lideraram o crescimento com 1,8%, seguido pelo Reino Unido com 1,7% e França com 1,5%. Alemanha e Japão, apenas 0,8%. Os países membros da Zona do Euro cresceram 1,3%. A América Latina cresceu 2,9%, o Brasil, 3,3% e o pior desempenho da região foi do México, com 1,8%, pois sua economia ficou colada na economia americana.

Este processo de descolamento tenderá a se acentuar com a recente crise financeira, que expôs a fragilidade financeira, monetária e fiscal dos países desenvolvidos, cujas conseqüências ainda se farão sentir por alguns anos.

Como avaliado no artigo, este processo vem ocorrendo há vários anos em decorrência da expansão natural do capital na direção da minimização de custos de mão de obra e de localização da expansão geográfica do consumo mundial, que se dá em favor dos países emergentes. A consequência deste processo tem sido a transferência de oferta de empregos dos países desenvolvidos para os emergentes, com uma incorporação sem precedentes de novos consumidores, o que reforça os movimentos do capital para esses últimos.

Continue Reading 12 de abril de 2010 at 12:27 Deixe um comentário

A caminho de uma nova ordem econômica? (Mário Murteira) 

Por Mário Murteira, janeiro de 2010

São frequentes as referências a diversos processos de transição, tais como a «transição para a economia de mercado», a transição para a «economia baseada no conhecimento» e a transição para o «mercado global», esta correntemente designada por globalização. Na realidade, trata-se de diferentes maneiras de olhar, ou interpretar, um único processo de transição, que é afinal a própria corrente da História. Processo ou deriva de cujo sentido e direcção não estamos seguros, mas que procuramos interpretar, olhando-o retrospectivamente.

Neste aspecto, note-se que a questão do «sentido da História» – isto é, insisto, da sua direcção e do seu significado – perdeu a relevância que teve no século passado, num tempo em que a «conjuntura ideológica» ainda era fortemente marcada pelo marxismo.

Hoje, ao contrário do que criam (e «queriam») os marxistas puros e duros, o «progresso» não é entendido como uma inevitabilidade, algo para que o curso dos acontecimentos se encaminharia fatalmente, mesmo com trajectos demorados e dolorosos, mas apenas uma «possibilidade», entre outras. Importa, portanto, desvendar essa possibilidade e, sobretudo, saber como construí-la na prática social.

É nesta perspectiva, que pretende ser ao mesmo tempo objectiva e confessadamente voluntarista, que me situo.

Continue Reading 10 de fevereiro de 2010 at 15:35 Deixe um comentário

Semiárido em transformação: panorama sócio-econômico e entraves para o desenvolvimento (Airton Saboya) 

Airton Saboia, do ETENE do Banco do Nordeste enviou-nos um interessante artigo de 9 páginas sobre a problemática do desenvolvimento no nordeste brasileiro. É um documento curto e denso, que avalia os grandes desequilíbrios estruturais e apresenta a descapitalização da região pelos intermediários financeiros comerciais (que captam mais do que investem, enquanto o Banco do Nordeste exerce a função de recapitalização): O Nordeste está sendo “fortemente penalizado pelo funcionamento do sistema financeiro nacional. Os Bancos que atuam no Nordeste têm sido responsáveis pela transferência de parte da poupança nordestina para as outras regiões, no processo de intermediação financeira. A atuação do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), por sua vez, tem sido diferenciada, no sentido da recapitalização, o que mostra o papel essencial das instituições públicas de financiamento na correção dos desequilíbrios regionais.
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Por Airton Saboya, dezembro de 2009

Introdução
O Nordeste brasileiro ocupa uma área de 1,5 milhão de km2, equivalente a 19,5% do território nacional. expressivo bolsão semiárido cobre a Região no interior (Mapa 1), estendendo-se do Piauí até o Norte de Minas Gerais, abrangendo uma área de 982,6 mil km2, compreendendo as bacias do Parnaíba e São Francisco, além do sertão meridional e setentrional, e correspondendo a 1.133 municípios. Especificamente no Nordeste, o semiárido abrange uma área de 879,0 mil Km2, correspondendo a 61,9% do território dessa Região e incluindo 1.049 municípios (Ministério da Integração Nacional, 2004).


Mapa 1 – Delimitação do Semiárido. Fonte: IBGE. Elaboração: Banco do Nordeste do Brasil(BNB)/Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste(ETENE).

Conforme os critérios estabelecidos, em 2004, pelo Ministério da Integração Nacional, o semiárido foi definido como sendo a área que possuias seguintes características edafo-climáticas: i) precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros; ii) índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico que relaciona as pre cipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990; iii) risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990 (Ministério da Integração Nacional, 2004). (mais…)

8 de janeiro de 2010 at 20:00 3 comentários

Um novo modelo de desenvolvimento rural (Guilherme Cassel) 

Por Guilherme Cassel*, outubro de 2009

O Censo Agropecuário 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), jogou luz sobre o campo brasileiro mostrando qual é o setor mais produtivo, que gera mais empregos e que coloca alimentos mais saudáveis na mesa da população brasileira. Esse setor é o da agricultura familiar.

Apesar de ocupar apenas um quarto da área cultivada, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões). Mesmo cultivando uma área menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do País, gerando os principais produtos da cesta básica consumida pelos brasileiros. A agricultura familiar emprega quase 75% da mão de obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite e 46% do milho, entre produtos consumidos pela população. O Censo mostra ainda que existem 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar no Brasil, que representam 84,4% do total, (5.175.489), mas ocupam apenas 24,3% (80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.

No período entre 1985 e 1995, o número de estabelecimentos até 10 hectares caiu significativamente e a área cultivada por eles também. Já de 1995 a 2006, a área da agricultura familiar continuou praticamente a mesma, mas o número de estabelecimentos aumentou, o que indica que esse processo não se deu à custa da migração do campo para a cidade, como ocorria no passado.

*Guilherme Cassel é engenheiro civil e ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário.

Continue Reading 21 de dezembro de 2009 at 14:24 Deixe um comentário

O desenvolvimento é necessariamente um processo de concertação (Artur Henrique da Silva)

Por Artur Henrique da Silva, novembro de 2009

Em busca de um novo padrão de produção e consumo com sustentabilidade política, ambiental e social

Ao longo da história política do Brasil, a experiência de Estado Democrático, aquele de ampla participação social é considerada como de exceção. Gerações foram formadas num ambiente onde as reivindicações populares e do movimento operário foram tratadas como movimentos de desordem com o intuito de por em xeque a ordem institucional estabelecida[1].

Os movimentos sociais que prosperaram ao longo dos anos 70 e 80, em especial o movimento operário, constituído a partir de uma institucionalidade estabelecida , será aquele que irá se contrapor ao modelo político que restringe a participação da classe assalariada nas definições dos rumos políticos e econômicos do país.

O movimento que se espraiou para além do movimento operário em denúncia contínua do modelo econômico, da exploração excessiva da mão-de-obra trabalhadora e do cerceamento dos direitos políticos dos cidadãos e restrita participação social nos fóruns de decisão granjeou, em cada momento, novos adeptos incorporando ao movimento diversas categorias profissionais e organizações sociais.

Continue Reading 13 de novembro de 2009 at 13:02 3 comentários

Global Unions Pittsburgh Declaration

A visão do mundo do trabalho nas discussões internacionais não tem tido a visibilidade que merece. O texto abaixo, preparado para a última reunião do G20 em Pittsburgh, tem a virtude de ser curto e de apresentar um conjunto de medidas realistas, algumas de curto prazo, outras de visão de longo prazo. A preocupação central é o emprego, mas encontra-se também fortemente presente a mudança climática, e uma visão interessante, na parte final, do que seriam as condições para um processos de desenvolvimento econômico minimamente equilibrado.

» Clique aqui para ler o documento (arquivo em formato .pdf, 16 páginas)

5 de novembro de 2009 at 10:08 Deixe um comentário

Empreendimentos econômicos e solidários: construção de um novo porvir (Claiton Mello) 

Por Claiton Mello, setembro de 2009

Resumo
O objetivo desse artigo é apresentar a perspectiva organizacional e solidária de duas cooperativas centrais de produção compostas por trabalhadores da agricultura familiar, relacionando essa realidade com a literatura que discute os fundamentos epistemológicos do desenvolvimento sustentável. Trataremos aqui de dois conjuntos de empreendimentos econômicos e solidários (EES) vinculados às cadeias produtivas do mel e do caju, no estado do Piauí, que tem como pressuposto gerar trabalho e renda e melhorar as condições sociais de seus cooperados, com respeito ao meio ambiente. O desafio desse artigo é apresentar como a construção coletiva, entre atores locais e organizações parceiras externas àquelas atividades, pode transformar o ambiente social em uma nova dinâmica de interação e desenvolvimento. Os dados e informações sobre os fatos e sobre os EES são de meu conhecimento, fruto do acompanhamento sistemático que realizado como gestor de Comunicação e Mobilização Social da Fundação Banco do Brasil.

Palavras Chave

1. Solidariedade; 2. Comunidade; 3. Participação social; 4. Cooperativismo; 5.
Desenvolvimento sustentável.

Introdução
Os empreendimentos econômicos e solidários (EES) aqui tratados são a Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis), e a Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí (Cocajupi). Utilizaremos o conceito de EES por ser esse o adotado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, que compreende organizações supra familiares, de caráter permanente, como associações e cooperativas e que exercem a autogestão de suas atividades e recursos. Ambas as centrais são cooperativas de segunda geração, complexa, quer dizer, a sua formação e existência se dá pela associação de outras cooperativas de base. O surgimento das centrais aconteceu a partir de 2003, quando houve uma priorização de investimentos e políticas públicas direcionados a diversos segmentos sociais antes secundarizados pelo Estado, então, priorizados pelo programa Fome Zero do Governo Federal, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A questão objetiva desvendada por Celso Furtado (1974), em O mito do crescimento econômico, apontou os limites do sistema capitalista, figurado em sua magnitude no século XX, com a promoção da concentração de renda e dos impactos ambientais sem precedentes, de países centrais desenvolvidos sobre países periféricos subdesenvolvidos. Esse quadro contribui para entender, por analogia e similaridade, como também foram produzidas na economia brasileira duas realidades distintas: uma o sul e o sudeste com relativo desenvolvimento, com indústrias e geração de empregos; a outra o norte e o nordeste bastante excluído do processo produtivo e de direitos sociais, com menos acesso ao trabalho.

Continue Reading 23 de setembro de 2009 at 14:24 Deixe um comentário

Negócios Verdes (Juarez de Paula) 

Por Juarez de Paula*, setembro de 2009

Os indicadores econômicos internacionais começam a dar sinais de que estamos superando o quadro de recessão mundial. A mídia internacional já anuncia o fim da crise. O Brasil, conforme previsão de que seria um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair, depois de dois trimestres com redução da atividade econômica, retomou o crescimento industrial, segundo dados do último trimestre.

O problema é que pouco adianta retomar o crescimento econômico se não há mudança estrutural no padrão de produção e consumo, pois como se trata de um modelo não sustentável, é mera questão de tempo até que nos vejamos imersos em nova crise, provavelmente de maior profundidade e extensão.

É preciso iniciar a transição para uma sociedade pós-carbono, ou seja, para um novo padrão de produção e consumo menos intensivo no uso de energia e menos dependente dos combustíveis fósseis, cujas reservas são finitas e estão em processo de esgotamento.

Quando se fala numa “Agenda Verde de Desenvolvimento”, muita gente reage como se fosse uma utopia irrealizável. Utopia não deixa de ser, vez que significa “não-lugar”, ou seja, aquilo que não está posto. Mas Utopia não significa aquilo que nunca vai existir, como querem alguns. Pelo contrário, tem significado sempre, ao longo da história, aquele tipo de sonho que move os revolucionários e inovadores, gerando processos de mudança.

Continue Reading 17 de setembro de 2009 at 15:02 Deixe um comentário

A experiência indiana & perspectivas para os países em desenvolvimento (IPC-IG)

O Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), antigo International Poverty Centre, publicou uma entrevista com Dr. Alakh Sharma, Diretor do Instituto para Desenvolvimento Humano (IHD), Nova Delhi e Dr. Bhaskar Chatterjee, Conselheiro da Comissão de Planejamento da Índia. Abaixo, um trecho da entrevista:

“(…) medidas de proteção social, parte importante do crescimento inclusivo, devem estar tanto nos planos político como no econômico. Essas questões tem sido priorizadas ao redor do mundo, especialmente nos países emergentes. Elas possuem suporte político? Sim, hoje possuem e devem possuir. Existe uma enorme necessidade à nível comunitário, forte pressão da sociedade civil e das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Em nossa jornada rumo ao crescimento inclusivo, temos que nos certificar que cada uma dessas pessoas que se encontram em desvantagem seja parceira no progresso. Somente assim que países podem ir pra frente.”

» 

14 de setembro de 2009 at 14:40 Deixe um comentário

A crise pode ser uma oportunidade para o Brasil diminuir as desigualdades regionais? (Tânia Bacelar) 

A entrevista de Tãnia Bacelar foca uma dimensão particulardos nossos desafios, que é o desequilíbrio regional. Muito bem formatada, a entrevista na realidade pode ser tratada como artigo científico que sistematiza de maneira muito clara os principais aspectos do desenvolvimento territorial. Uma simples olhada no mapa econômico e na distribuição demográfica no país mostra claramente a que ponto a interiorização do desenvolvimento é importante. Tânia trata os desequilíbrios regionais, as políticas de apoio à agricultura familiar, o potencial das políticas de infraestruturas, as formas de equilibrar o financiamento, a deformação do sistema tributário atual (“esta máquina de geração de desigualdade”), as imensas perspectivas do nosso território frente à demanda mundial de alimentos em expansão. Visão de conjunto e bom senso fazem deste texto uma ótima leitura. (Ladislau Dowbor)
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Entrevista publicada na Revista Rumos, edição de setembro de 2009.

1 – Quais são, no seu entender, os principais entraves que dificultam o desenvolvimento mais harmônico das regiões brasileiras?
Os entraves vêm da herança do processo histórico de ocupação humana e econômica de nosso país. O fato de ter “engatado” na dinâmica do capitalismo no século XVI como colônia de exploração deixou a marca da ocupação concentrada no litoral que se consolidou ao longo dos séculos. Ali está até hoje nossas principais cidades, o essencial do parque industrial, a maior parte de nossa infra-estrutura econômica e de nossa infra-estrutura de ciência, tecnologia e inovação, para ficar apenas nesses aspectos.

No século XX, já politicamente independente, a opção brasileira de se tornar potencia industrial a qualquer custo deixou a herança de uma exagerada concentração espacial dessa industria. Chegamos a colocar 80% da produção industrial brasileira no Sudeste e 44% na Grande São Paulo ( dados de 1970 ). Um padrão de concentração inusitado e inaceitável, em um país continental e pleno de tantos potenciais, como o Brasil.

Tal grau de concentração empanou o maior potencial brasileiro que é a diversidade regional magnífica que temos. Reduzir significativamente tal concentração – o que não é tarefa fácil – é um de nossos principais desafios no século XXI. O desenvolvimento harmônico das regiões brasileiras requer um projeto diferente do que implantamos no século passado: requer olhar para todo o país e patrocinar as potencialidades que existem Brasil a fora: para a industria, para os serviços, para a produção de bioenergia, para a produção de bens alimentares, para o desenvolvimento do turismo, para a chamada indústria criativa, para a pesca, para a produção extrativa, para o artesanato…. Reduzir o potencial do país a indústria de transformação voltada para si própria, para o consumo das classes de alta renda e para a exportação operou como entrave a valorização de muitas de nossas regiões. Não podemos repetir isso no século atual. Valorizar a diversidade regional brasileira é uma opção estratégica da maior importância para promover um desenvolvimento regionalmente mais harmônico.

Continue Reading 11 de setembro de 2009 at 15:34 1 comentário

O ponto crítico da Civilização (Lester Brown)

O texto abaixo, curto e simples, resume bem a dimensão dos desafios presentes no esforço de ampliação das redes de mobilização social em torno dos problemas mais críticos no nosso horizonte de médio prazo; atenta também para a necessidade de gestão de um certo senso de urgência sobre as medidas consideradas.
Recentemente o publicamos em inglês original, diponibilizamos agora a versão traduzida ao português pelo Mercado Ético.
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Por Lester Brown, agosto de 2009

Tem aumentado a preocupação com os pontos críticos da natureza. Cientistas já questionam, por exemplo, a capacidade de recuperação das espécies em risco de extinção. Biólogos marinhos, por sua vez, estão preocupados com o fato de que a pesca excessiva dará início ao colapso dessa indústria.

Sabemos que existiram pontos críticos em civilizações antigas, pontos em que a população foi dominada pelas forças naturais que as ameaçavam. Por exemplo, em algum ponto, o acúmulo de sal relacionado à irrigação do solo esgotou a capacidade agrária dos Sumérios. Com os Maias, os efeitos danosos do desmatamento associados à perda da fertilidade do solo tornaram-se irreversíveis.

Porém, os pontos críticos que levam ao declínio e ao colapso de uma sociedade nem sempre são facilmente previstos. De forma geral, os países desenvolvidos podem lidar com novas ameaças de forma mais efetiva do que os países em desenvolvimento. Por exemplo, enquanto os governos de países industriais têm sido capazes de manter os índices de infecção do HIV entre adultos abaixo de 1%, muitos governos de países em desenvolvimento têm falhado nesse controle e agora estão lutando com altos índices de infecção. Isto é mais evidente em alguns países sul-africanos, onde 20% ou mais adultos estão infectados.

Continue Reading 8 de setembro de 2009 at 15:52 1 comentário

A revolução energética do século XXI (Ignacy Sachs) 

Ignacy Sachs descreve os principais desafios da mudança da nossa matriz energética, com suas implicações técnicas, econômicas e sociais. O artigo foi publicado pela Revista Estudos Avançados, da USP, 21 (59), 2007.

»  Clique aqui para ler o artigo (arquivo em formato .pdf, 17 páginas)

Continue Reading 31 de agosto de 2009 at 14:03 Deixe um comentário

Estado, planejamento e políticas públicas: o Brasil em desenvolvimento (José Celso Cardoso Jr.)

“O excelente estudo de José Celso casa de maneira estreita com os objetivos desta rede de colaboração que constituimos no Crise e Oportunidade, no sentido de trazer visões propositivas. José Celso trabalha no Ipea, e traz a visão de uma instituição que pesquisa a realidade. E deste ponto de partida repensa o papel do Estado, e em particular do planejamento. O Estado, neste enfoque, volta a ser um ator chave do processos, e o planejamento, devidamente qualificado no sentido de ser participativo, articulador, prospectivo e propositivo, volta a ser o instrumento de articulação e de coerência do processo social. Estado e planejamento, por sua vez, são vistos na perspectiva de um conceito mais amplo do desenvolvimento. Artigo curto mas denso, ao mesmo tempo teórico e voltado para aplicações, pode servir para balizar as discussões que iremos ter em Fortaleza e mais adiante.” (Ladislau Dowbor)
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Por José Celso Cardoso Jr.*

Introdução: contextualizando o debate em curso no IPEA.[1]

Em tempos como os que estamos vivendo, de largo predomínio das idéias de uma mundialização sem fronteiras da economia (sobretudo a financeira) e de um crescente questionamento em relação à operatividade (em termos da efetividade e eficácia) dos sistemas democráticos de representação, torna-se crucial voltar a discutir o tema da natureza, alcances e limites do Estado, das Instituições e da Democracia no capitalismo brasileiro contemporâneo.

Este tema se torna particularmente relevante agora, uma vez passada a avalanche neoliberal das décadas de 1980 e 1990 e suas crenças em torno de uma concepção minimalista de Estado. Diante do malogro do projeto macroeconômico neoliberal (baixas e instáveis taxas de crescimento) e suas conseqüências negativas nos planos social e político (aumento das desigualdades e da pobreza, e o enfraquecimento dos mecanismos democráticos), evidencia-se já na primeira década do novo século uma certa mudança de opinião a respeito das novas atribuições dos Estados Nacionais.

O contexto atual de crescente insegurança internacional (terrorismos, fundamentalismos, guerras preventivas etc) e de grande incerteza econômica no sentido keynesiano forte, está fazendo com que se veja, nos círculos conservadores da mídia e da intelectualidade dominante, bem como nas agências supranacionais como FMI, BID, Banco Mundial, OMC etc, um discurso menos hostil às ações dos Estados Nacionais (…)

*José Celso é Técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA.

Continue Reading 25 de agosto de 2009 at 23:04 Deixe um comentário

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